segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Texto da ajebiana Daisy Buazar

A ESPERA



Sentada em sua mesa de trabalho, Diana tentava organizar a correspondência do dia. Aos vinte e sete anos, era uma bem-sucedida assessora jurídica de uma empresa de telecomunicações, pela qual fora contratada desde que se formara. A expressão serena dissimulava a inquietude de seus pensamentos.
O soar do telefone a fez voltar à realidade. Hesitou em atendê-lo. Não gostava de ser interrompida. Depois, imaginava tratar-se de Paolo, com quem não queria conversar, pelo menos até que conseguisse entender os acontecimentos da véspera.
Recostou-se no espaldar da cadeira e recordou, com nostalgia, a ocasião em que o conhecera. Agosto de 1994. Festa de casamento de Alice. Ainda vivas em sua memória a cerimônia, com ritual ecumênico, ao som de violinos, e a recepção, em um luxuoso restaurante de São Paulo. Entre os padrinhos, dois amigos italianos do noivo.
Um deles chamara a atenção de Diana por sua beleza, pelos traços perfeitos de seu rosto e por sua jovialidade. Como os italianos, ele “vivia” a música enquanto dançava, fazendo gestos de mímica de uma maneira engraçada e divertida. Quando seus olhos se cruzaram, ela sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Teve a certeza de que alguma coisa iria acontecer. “Ele ainda vai dançar comigo esta noite”, pensara consigo mesma vendo-o descolar a camisa molhada do corpo.
A mesa de Diana, próxima da pista de dança, era iluminada apenas pelos refletores das filmadoras e pela luz da vela que a decorava. Apesar da penumbra, ele conseguiu vê-la. Com as mãos, abanava o rosto suado e as apontava na direção de Diana, depois as voltava para os seus cabelos, encaracolados como os dela.
Com movimentos de cabeça, Diana dava-lhe a entender que o compreendia. Saudou-o com um brinde, levantando a taça de vinho que tinha nas mãos. Paolo retribuiu o gesto e ambos levaram à boca seus copos. Ela desviou por alguns segundos seu olhar, perdendo o rapaz de vista. Não a confiança em sua intuição.
Contagiada pelo ritmo alegre da música, ensaiou alguns passos de dança, tentando acompanhar os noivos, bem à sua frente. Seu coração pulsou mais forte ao vislumbrar Paolo. Com um suave gesto de mão, ele convidou-a a dançar. Hipnotizada, viu-se no centro da pista, diante de Paolo. Não trocaram palavras, não se tocaram. Apenas uma música dançaram. Paolo cantava e representava, Diana o acompanhava, sem desgrudar-lhe os olhos.
Terminada a música, Diana sussurrou-lhe um “ciao”. Paolo a seguiu até a mesa e sentou-se a seu lado. Fitava-a com insistência. Bebeu um gole de sua taça de vinho, passando a língua nos lábios. Os dedos contornaram o rosto de Diana e pousaram em sua boca. Diana transpirava, ardia em chamas e, atendendo a seu desejo, abriu os lábios e deixou-se beijar. Mãos famintas deslizaram até seus seios, apalpou-os, pressionou-os, e depois desceram até suas coxas. Diana ofegava, sua boca ainda unida à de Paolo. Delicadamente segurou as mãos de Paolo, desgrudou-se de sua boca, fitou seus olhos nos dele e assim ficaram por algum tempo, em silêncio, um querendo entrar no outro pelos olhos.
Quando cansaram de se olhar, abraçaram-se e assim ficaram até a festa acabar.
Naquela noite nada mais aconteceu. Apenas a promessa de que se veriam novamente.
No dia seguinte, o retorno à Itália. Diana precisou esperar três meses para saciar o seu desejo. De início, os encontros aconteciam no apartamento dela. Depois, na casa em que o amante comprou.
Diana apaixonara-se, mas não tinha certeza dos sentimentos de Paolo. Ela sabia-o conquistador.
A relação fora intensa, temperada por brigas e reconciliações, ela sempre cedendo às suplicas do amado . Tinha terror de ficar sozinha, não suportaria um novo rompimento, e por isso acabava aceitando-o de volta.
Suas dúvidas, pensava agora, após anos de vida em comum, comprovaram-se quando, na noite anterior, flagrou Paolo beijando Alice, já separada do marido. Naquele momento não fora capaz de assimilar o que via, estava aturdida demais para raciocinar. Diana não se deixara notar. Saiu às escondidas, quase correndo, deixando atrás de si um rastro de lágrimas.
Passara a noite em claro, revivendo a cena que a deixara transtornada. Pela manhã, a despeito da mágoa que ainda corroia seu coração, sentia-se mais calma, capaz de analisar melhor a situação. Não fora um simples beijo de amigos, como muitas vezes os via se cumprimentar. Não. Paolo beijava Alice impetuosamente, quase deitado sobre ela no sofá de sua casa.
Diana sabia que a amiga estava com um novo amor, ela mesma lhe contara. Mas não podia acreditar, não queria acreditar, que fosse o seu amado.
O telefone soou novamente. Com o coração apertado, decidiu atender. Ninguém respondeu do outro lado da linha. Desligou desapontada.
Voltou a se concentrar no trabalho. Afinal, não gostava de ser interrompida.

             

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